domingo, 1 de março de 2009

Canto XV













En Occident, les femmes virtuoses ont fourmillé. Les femmes ont beaucoup aimé la musique. Les femmes qui ont beaucoup composé furent à tout le moins rares. Elles échappent à la mue. Pour retrouver la voix de leur enfance, il ne leur est demandé aucun effort, il leur suffit de parler, il leur suffit d’ouvrir la bouche. Elles dominent dans leur voix – d’un bout à l’autre de leur voix. Elles sont prééminence dans le temps e toute-puissance tonale, et hégémonie dans la durée, et empire le plus absolu dans l’empreinte sonore exercée sur les plus petits – sur les naissants. Les hommes sont voués, à partir de treize ou quatorze ans, à la perte de la compagnie du propre chant de leurs émotions, de l’émotion native, de l’affetto. La mue redouble la séparation avec le corps premier. Comme la présence de leur sexe entre leurs jambes, la voix grave, fautive, aggravée qui sort de leurs lèvres, la pomme d’Adam, à mi-partie du cou, scellent la perte de l’Éden. La mue est l’empreinte physique matérialisant la nostalgie, vouée à la nostalgie, mais la rend inoubliable, sans cesse se rappelle dans son expression même. Toute voix basse est une voix tombée. Pour peu que les hommes desserrent les dents, aussitôt – comme un nimbe sonore autour de leur corps – le son de leur voix dit : Ils ne recouvreront jamais la voix. Le temps est en eux. Ils ne rebrousseront jamais chemin. Ils composent avec la perte de la voix et ils composent avec le temps. Ce sont des compositeurs. La métamorphose du grave à l’aigu n’est pas possible. Du moins: n’est pas corporellement possible. Elle n’est qu’instrumentalement possible. Elle a nom la musique.

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No Ocidente, as mulheres virtuosas abundaram. As mulheres amaram muito a música. Porém, as mulheres que compuseram muito foram bem mais raras. Escaparam à mudança. Para reencontrarem a voz da infância não se lhes pede nenhum esforço, basta-lhes falar, basta-lhes abrir a boca. Elas dominam na sua voz – de uma ponta à outra da voz. São preeminência no tempo e omnipotência tonal, e hegemonia na duração, e o império mais absoluto no sinal sonoro enviado aos mais pequenos – aos que nascem. Os homens estão destinados, a partir dos treze ou catorze anos, a perder a companhia do próprio canto das emoções, da emoção congénita, do affetto. A mudança duplica a separação com o corpo primeiro. Como a presença do sexo entre as suas pernas, a voz grave, faltosa, que sai dos seus lábios, a maçã de Adão, a meio do pescoço, selam a perda do Éden. A mudança de voz é a marca física materializando a nostalgia, votada à nostalgia, mas também o que a torna inesquecível, evocada continuamente na sua própria expressão. Toda a voz baixa é uma voz caída. Por mais que os homens soltem os dentes, logo – como um nimbo sonoro em torno dos seus corpos – o som da voz lhes diz: Nunca reencontrarão a voz. O tempo entrou neles. Nunca retomarão o caminho. Compõem com a perda da voz e compõem com o tempo. São compositores. A metamorfose do grave ao agudo não é possível. Pelo menos, corporalmente possível. Ela não é senão instrumentalmente possível. Tem por nome, música.















Foto Hugo Joel / Texto Pascal Quignard, in «La leçon de musique» (tradução de C. Nunes de Almeida)

4 comentários:

  1. E quando dançamos pela primeira vez? Ao espelho, e fica no espelho com a maioria.

    Não, a música não é a metamorfose possível, porque o Éden, a utopia, está no horizonte, como disse Galeano.

    Aproveito para deixar uma mensagem de apoio ao fotógrafo. Não percebo de fotografia, mas sei do que gosto. Apenas não calhou comentar. Até agora, gostei de tudo, especialmente do homem dos óculos :)

    abraços

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  2. Era eu, mas enganei-me na conta. Essa já não uso.

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  3. Ja' viste Bardo!? Agora nao podes dizer que as tuas fotografias nao entram pelos olhos (e pelos ouvidos) das pessoas...
    Obrigada, Dinisinho, pelas permanentes deambulaçoes.

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  4. Oh Dinis!

    Tu és o comentador de sonho de qualquer blogger!

    Não só dizes que sim, mas como não também, mas mesmo os teus nãos são bons repararos.

    Muito obrigado por teres acompanhado o nosso blog e um obrigado também pelo comentário ás minhas fotos :)

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