domingo, 1 de março de 2009

Canto XIV



















Amor:

ferrugem

preciosa.

-

Amor:

metal

de quatro patas.


Foto Hugo Joel / Duas espécies de haikus de C. Nunes de Almeida

6 comentários:

  1. Gosto muito, mas não são haikus, são "greguerías" em terceto :).

    Quer dizer, também são haikus.

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  2. De haikus ja' sei demais! Até gostava de desaprender algumas coisas sobre eles, para começar a executa'-los com alguma perfeiçao.

    Estes, de facto, nao sao haikus. Sao composiçoes que procuram traduzir visualmente um conceito. Explosoes breves.

    Mas nao sao haikus. Sao uma espécie de haikus.

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  3. No sentido purista, clássico, não são haikus. Também já sei muito de haikus, e sei que um terceto de teor imagético já é um haiku. Os beat-haiku, por exemplo, ou até alguns do J.S. Braga ou mesmo até do Casimiro são como estes teus. O que interessa é a imagem, a sugestão, a síntese. Creio e defendo que o próprio kigo (fulcral nos japoneses) pode mesmo ser omitido. O what/where/when também não tem de ser cumprido. Se possível, sim, porque de facto a sugestão e a imagem cristalizam-se, mas muitas vezes não é preciso. E porque não um haiku surrealista?, como o último que escrevi:

    O salto da rã
    caiu-me no ombro
    e ela no charco

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  4. Gosto bastante deste teu ultimo! Como de outros que descobri (alguns muito ao estilo de Kerouac) no teu "meloudrama".

    Tens razao sobre aquilo que escreves a proposito do haiku classico. No entanto, tambem nao se pode confundir o que é o "haiku classico" com aquilo que é o "haiku japones de hoje". Isto porque todas as mudanças que os seus canones sofreram no Ocidente, na realidade, partiram dos proprios poetas japoneses (os modernos "haijin" opondo-se aos classicos "shijin"). Quero com isto dizer que, essas inovaçoes de que falas (exclusao do "kigo" no muki-haiku, a métrica livre, a recuperaçao de estilos das vanguardas europeias, etc), nao pertencem apenas às geraçoes de poetas ocidentais (seja Jack Kerouac ou Albano Martins), porque nasceram no proprio seio da poesia japonesa e foi ali que se desenvolveram nesse sentido. O haijin foram leitores vorazes da poesia ocidental e isso teve grandes reflexos nos preceitos do haiku! Tenho que te mostrar um artigo escrito por diversos poetas japoneses contemporaneos, publicado na revista World Haiku, onde eles aplicam a eles proprios todas estas tendencias e muitas mais. Explicam a modernidade do haiku em termos evolutivos, dentro do contexto japones - é muito interessante e vais gostar. Estes canones "ampliados" do haiku, que entraram na Europa ainda na primeira metade do séc. XX (onde se desenvolveram sem limites), nao sao mais do que espelhos de longas "ampliaçoes" operadas no seu contexto original, sobretudo a partir de poetas como Shiki e Takahama. Assim, nao nos podemos referir propriamente ao "haiku classico" (de Basho, Kobayashi, Buson) como sendo o "haiku japones", porque o "haiku japones" dos ultimos cem anos é tanto (ou mais) trangressor do que os nossos...

    Dinisinho, grazie mille por abrires este tema de conversa!

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  5. O que é o muki-haiku?

    Concordo contigo, claro. Há bocado referi-me aos "haikus japoneses" pensando nos clássicos. Tenho lido alguns haikus japoneses (dessa revista) contemporâneos e reconheço bem o tipo de evolução que tem sofrido.

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  6. "Muki" significa "para além da estação/fora da estação". Logo, o "muki-haiku" é aquele que não contempla o uso obrigatório de palavras-chave de carácter sazonal.

    A revista onde isto vem muito bem explicitado afinal é a "Japanese Haiku", de 2000. (depois passo-te o artigo se quiseres)

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