sexta-feira, 3 de abril de 2009

Canto XX



















UMA CERTA LISBOA INSUPERÁVEL

Só lhe faltava dizer que Lisboa era airosa no seu serpentear e uma cidade inquietante na qual uma pessoa nunca sabia se acabava de chegar ao fim de uma viagem ou ao ponto de partida. Só lhe faltava dizer que Lisboa era uma cidade que às vezes parecia surgir como uma serpente surge da sua pele. Mas isto será melhor que eu diga a mim próprio, pois às vezes tenho a impressão que surjo do que escrevi como uma serpente surge da sua pele, aqui nesta ilha de palmeiras e eternidade onde todos os dias mergulho na tinta a minha pena e onde o tempo, no seu teatro armado sobre a calma e o pouco vento, também passa por mim lento e fácil, porque a vida aqui é fácil, e o meu relógio muito lento e, além disso, para quê negá-lo, eu sou apenas um principiante, o principiante mais lento.

Fotos de Hugo Joel / Texto de Enrique Vila-Matas, in «A Viagem Vertical» (trad. José Agostinho Baptista)





































5 comentários:

  1. Parabens pela conquista e pelo tempo!=)

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  2. E nós agradecemos perfeição das tuas costas, em certos trilhos deste Diário. Costas poéticas. :)

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  3. Lisboa está vibrante!
    Mas a vida aqui é difícil.

    um abraço

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  4. uma descrição perfeita...sinto-me ligada a Lisboa por um fio invisível de promessas e remorsos

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  5. Querida Nunzia, Lisboa também se sente ligada a ti! Fico muito orgulhosa por ela ocupar um lugar tão especial num coraçãozinho toscano...

    Muito obrigada pela visita a este depósito de nostalgias.

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