segunda-feira, 27 de abril de 2009

Canto XXII



















Avassalador

o amor?

Avassalador

é o céu direito depois da despedida

a compostura do céu

e o vento abrindo-se.

A dilatação das asas

e o rigor das plumas no rigor da tarde

o rebentar dessa escuridão

entre a minha pele e os teus longos astros.

Avassalador

é o fruto que ficou na boca

inimastigável.

A substituição daqueles dedos de uva

por estes dedos de ave

sem grainhas

humanos demais.

Avassalador

é o cadáver vegetal

o arvoredo

a pender dos seios.

Avassalador sim

avassalador como a neve desatando-se

como gomos enrijecidos desenfreados

brancos de doer

brancos de estar

à sombra de nós.


Foto Hugo Joel / Texto C. Nunes de Almeida

1 comentário:

  1. Logo, o amor é uma avalanche. Mas a avalanche mata. Muito belo e leve este teu poema, Catarina.

    Hugo, fotografaste a mesma rapariga e esta foto é a que mais gosto em relação às cores e, apesar de ser foto, ao ritmo.

    Beijinhos e abraços

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