
Depois de tudo, fica a lembrança dos lugares e
dos seus nomes; dos quartos virados a poente
onde as imagens do rio nunca se repetem nas janelas
e todos os enredos são consentidos sobre as camas.
-
Ao fundo, havia um armário de madeira com espelho
onde as nossas roupas trocavam de perfume
para que os dias se vestissem sempre melhor.
E, sobre a cómoda, num espelho mais antigo,
a tarde reflectia algumas das alegrias da infância.
-
Não era o quarto de nenhum de nós,
mas a ele regressávamos sempre com a pressa
de quem anseia os cheiros quentes e antigos
da casa conhecida; como quem espera ser aguardado.
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Pressenti, porém, que não era eu quem aguardavas:
uma noite, pedi-te um cobertor em vez de um abraço.
Fotos Hugo Joel / Texto Maria do Rosário Pedreira, in «A Casa e o Cheiro dos Livros»

Texto razoável. A perda do amor, a consciência disso. A memória.
ResponderEliminarImagens deslumbrante.
beijinhos e abraços
Dinis, o génio da concisão.
ResponderEliminarÉ mesmo isso: meia-palavra é vasta.
Infinitamente grata pelo olhar atento!
Pois pá, tenho de deixar o mundo dos haikus. Qualquer dia torno-me monossilábico. *
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